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Caso Luva de Pedreiro: o lado corrompido do paraíso dos influenciadores

Caso Luva de Pedreiro: problemas no paraíso dos influenciadores

Sumário

O cara da “Luva de Pedreiro”, Iran Santana Alves, é um desses casos explosivos que os corredores das redes sociais lançaram ao mundo. Um garoto que em um momento está em um campo de várzea da cidade de Quijingue, no interior da Bahia, em outro está no Parque dos Príncipes, em Paris.

25 de março de 2021. É pouco mais de 1 ano que separa o perfil “Iai8747”, do Luva de Pedreiro, dono de 17,9 milhões de seguidores no TikTok, 16,5 milhões no Instagram, 2,1 milhões no Facebook, 1,6 milhões no YouTube e 82,8 mil na Twitch. Iran foi o primeiro brasileiro a ser seguido pela conta oficial do Instagram.

O movimento natural era uma mudança radical de vida. Os valores envolvidos nas negociações com o influenciador já davam condições para realizar seu sonho. Iran continua morando na mesma casa e sua conta possuía valores irrisórios – foi quando o desabafo veio à tona.

Começaram a ser levantadas uma série de polêmicas e questionamentos envolvendo a sua relação com Allan Jesus, seu então empresário. Desenrola a partir daí talvez o primeiro caso emblemático do lado corrompido do paraíso dos influenciadores. 

Quando alguém pega um influenciador que viraliza e não faz ideia da proporção que aquilo pode tomar – e capitaliza isso. É um caso que mostra muito sobre algumas premissas que esse novo mercado precisa estabelecer, principalmente para fugir de sinucas de bico. O Luva de Pedreiro foi colocado em uma delas – se correr o bicho pega, se ficar o bicho come.

A história de Iran Santana Alves, o Luva de Pedreiro

Desde os 7 anos de idade trabalha com os pais na roça para ajudar no sustento da casa. Foi na infância que surgiu a maior paixão de sua vida: o futebol. 

Começou a imitar seus ídolos, gravar jogadas e fazer presepada. A luva surgiu nos vídeos para ficar igual aos jogadores europeus que jogam no frio. Comprou um par em uma loja de construção, daí o apelido.

“Gravo os vídeos num campinho aqui de barro perto de casa. Comecei a gravar os vídeos para dar um custo para minha família, meu pai me sustenta muito e agora quero sustentar ele e a minha família, por isso comecei a fazer isso”, explicou ao UOL Esporte.

Os outros personagens que ajudam Iran a gravar seus vídeos são seus vizinhos e as imagens são feitas por quem aparecer para ajudá-lo. A edição quem faz é o próprio, receba.

“Receba”, que aliás, é seu principal bordão, ao lado de “Graças a Deus Pai”, “Obrigado, meu Deus” e “Pai, Filho e Espírito Santo”. O carisma do garoto cativou a Internet.

Uma série de celebridades começaram a imitá-lo. Um dos primeiros famosos a usar um de seus bordões foi Cristiano Ronaldo Jr., filho do atual atacante do Manchester United, que lançou logo um “receba” depois de uma jogada gravada no Instagram.

Iran é vascaíno. Sempre faz questão de colocar o Gigante da Colina lá em cima e glorificar a cruz de malta. Usa o manto na maioria dos vídeos. Foi chamado pelo clube para conhecer Nenê, um dos principais jogadores do elenco na atual temporada.

“Não consigo descrever este sentimento. É incrível, é uma coisa maravilhosa na minha vida ser vascaíno. A história do Vasco é sensacional, Vasco representa o amor, e o futebol. Comecei a gostar de futebol assistindo a jogos do Vasco, com Juninho Pernambucano e tantos outros grandes jogadores”, continua.

Seu grande ídolo é Neymar. Adivinha só?

O Luva de Pedreiro foi experimentando toda uma nova realidade, mas quando recebeu a placa de prata do YouTube, quando atingiu a marca de 100 mil inscritos em seu canal na plataforma, viu o nome ASJ Consultoria Reprodução ser cravado. 

O que era para ser motivo de comemoração se tornou uma grande polêmica. Seu canal no YouTube se chamava Luva de Pedreiro, não ASJ Consultoria, a empresa que o agenciava. 

Allan Jesus, seu então empresário, solicitou a personalização do letreiro com um nome adicional, o que causou suspeitas sobre um possível contrato abusivo que impedia Iran de receber todos os louros pelo seu trabalho.

Depois de toda especulação, o caso se judicializou e Luva de Pedreiro ganhou um novo empresário: Falcão, o maior nome do futsal brasileiro.

O poder do marketing de influência nas mãos de um garoto 

Metade da população global usa redes sociais. Logo, quem influencia nesse ambiente tem voz de poder.

Segundo a pesquisa da Influencer Marketing de 2022, o mercado cresceu de US$ 1,7 bilhão, em 2016, para US$ 9,7 bilhões, em 2020; em 2021, esse número subiu para US$ 13,8 bilhões, e este ano, o mercado está projetado para expandir para a casa dos US$ 16,5 bilhões.

Esse desenvolvimento é atribuído à crescente popularidade de formatos de vídeos curtos em plataformas como TikTok e YouTube e à otimização da coleta de dados.

Um impressionante número de 90% dos entrevistados na pesquisa indicou que acredita que o modelo é eficaz. Essa estatística tem se mantido bastante consistente ao longo dos anos.

As marcas estão cada vez mais se concentrando em usar o marketing de influência para gerar ações reais e que impactam positivamente seus resultados financeiros. 

É por isso que 38,5% das marcas acreditam que conversões e vendas são a forma mais importante de medir o sucesso de suas campanhas de marketing. Outras marcas medem o sucesso com base no engajamento ou cliques (32,5%) e visualizações, alcance, impressões (29%).

Exatamente por essa inversão de valor de consumo. Não são mais as pessoas que se ajustam às marcas. São as marcas que se ajustam às pessoas. 

Você precisa da influência e da vida real sobrepostas aos seus números. De que adianta você moldá-la do jeito que você quer, enquanto todo mundo a conhece pelo que ela é? 

Influenciador é sobre vida real – e seguindo as tendências de relacionamento com o consumidor, é certamente uma das formas mais eficazes de se comunicar.

Quando um garoto de 20 anos, do interior da Bahia, tem acesso a esse tipo de influência, e alguém com intenções maliciosas decide o introduzir a esse mundo, você pode ter uma inversão do que é visto como caso de sucesso. 

Novas dinâmicas corporativas com influenciadores digitais

Esse caso mostra o perigo de se construir uma relação informal. O mercado hoje já exige formalidade. Já passou a fase do improviso. Iran, por diversos motivos que o levaram a simplesmente delegar, ficou à mercê da ética do seu empresário. Correu o risco e ficou em uma sinuca de bico.

À medida que o mercado cresceu, também cresceu o número de empresas que agenciam influenciadores. Como mostra a supracitada pesquisa, em 2021, foram registradas 18.900 agências focadas em marketing de influência em todo o mundo, um aumento de 26% relacionado ao ano anterior.

É um mar de oportunidades não só para a marca e para o influenciador. Pode ser custoso o contato direto. O conflito de agendas poderia tornar impossível a relação e não permitir o modelo florescer. Um intermediário, que agencia e controla as ações dos interessados, é a chave essencial para que exista uma gestão de processos eficiente.

Existe todo um ecossistema que envolve esse pessoal. Agências de publicidade contam com essas agências de influenciadores para atenderem seus clientes, as marcas buscam assessoria diretamente com essas plataformas. Existem diversas vias de contato.

No Brasil, talvez quem mais se destaque no setor é a Spark. Também temos um papo muito interessante com o fundador Rafael Coca. Dá uma olhada:

“Receba” pode ser “devolva”, no caso Luva de Pedreiro. É preciso estar atento e sair da informalidade de um mercado que já está aquecido.

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