Antônio Rodrigo Nogueira, mais conhecido como Rodrigo Minotauro, é uma lenda viva do esporte brasileiro. Não só por suas conquistas dentro dos ringues e octógonos, mas, principalmente, por sua conduta fora deles.
Minotauro é um líder nato, que inspirou toda uma geração. Anderson Silva, talvez o maior nome da história do MMA, tem Minotauro como mestre. O respeita como mestre. Não só ele, mas todo um hall da fama dos esportes de combate que passaram por seus aprendizados.
Aos onze anos, Rodrigo foi atropelado por um caminhão. Ficou em coma e passou quase um ano internado. Foi o primeiro momento em que precisou lutar. Talvez daí tenha descoberto a força de uma criatura mitológica dentro de si.
Começou a treinar judô. Passou a praticar boxe, muay thai, wrestling e jiu jitsu. O que lhe aconteceu foi o gatilho para nunca sair do caminho do esporte. Minotauro já foi detentor dos cinturões das maiores organizações da história do MMA, entre elas Rings, Pride e UFC.
Faz parte do Hall da Fama do UFC e foi laureado como um dos maiores lutadores de MMA de todos os tempos. O que está por trás da história de Rodrigo Minotauro, o caminhão brasileiro que atropelou o mundo das artes marciais?
A história de Rodrigo Minotauro: atropelado para atropelar o mundo
Antônio Rodrigo Nogueira nasceu no dia 2 de junho de 1976, em Vitória da Conquista, Bahia. O acidente que o acometeu aos onze anos, em 1987, quebrou suas costelas, rompeu seu fígado, machucou severamente os rins e os pulmões e perdeu uma parte do músculo nas costas.
Dias em coma e quase um ano internado se recuperando. É preciso cair para se reerguer mais forte. Minotauro aprendeu isso logo cedo e da pior forma. Talvez com a pancada mais dura de sua vida. Nenhum oponente, mesmo aqueles que tinham o dobro do seu tamanho, o machucaram dessa forma.
Por que então, a partir de uma pancada dessa, Minotauro não aguentaria o mundo? Com uma base forte do judô, do wrestling e do jiu-jitsu, de atropelado por um caminhão, como caminhão brasileiro atropelou o mundo.
Mais: estava na geração vanguardista do MMA. Minotauro pega o fim dos combates com regras mais brandas e se aposenta com um esporte consolidado mundialmente. Seu cartel é impressionante. Desde 1999, foram 34 vitórias (21 por finalização), 1 empate e apenas 10 derrotas.
Sempre fez lutas memoráveis, como a histórica vitória sobre o gigante americano Bob Sapp ou a perda do cinturão dos pesos-pesados para o russo Fedor Emelianenko. Campeão interino do UFC em 2008, tornou-se o primeiro peso-pesado a unificar os cinturões do Ultimate e do Pride, dois dos maiores eventos da história dos combates.
Em 2010 sofreu uma lesão no quadril, foi submetido a uma cirurgia e ficou longe do octógono por 18 meses. Retornou ao UFC só no ano seguinte, em 2011, em evento realizado no Rio de Janeiro. Minotauro nocauteou Brendan Schaub, em pleno Brasil, coroando com seu povo uma carreira brilhante de atropelos.
No mesmo ano, ainda voltou ao octógono em uma revanche contra o americano Frank Mir. Acabou sendo finalizado com uma chave americana e teve seu braço direito quebrado. Foram 16 pinos e uma placa de metal para consertar o ato de não desistir. Persistência ou cegueira neste momento não cabe ninguém a julgar, Rodrigo aprendeu desde os onze anos a não desistir.
Conseguiu ainda voltar em 2012, mais uma vez para provar sua força mitológica: venceu o americano Dave Herman com uma chave de braço, sua maior armadilha, a mesma que caíra no sabor amargo um ano antes contra Mir.
Suas últimas três lutas da carreira foram o ronco torpe do motor. Em 2013 perdeu por finalização para Fabrício Werdum; em 2014 perdeu por nocaute para Roy Nelson; e ainda no mesmo ano, perdeu por decisão unânime para Stefan Struve.
Minotauro anunciou a aposentadoria após os revezes sequentes, se tornou embaixador do UFC no Brasil, embaixador do Comitê Paralímpico Brasileiro e comentarista dos canais Combate e Sportv.
Lutador fora do octógono: Team Nogueira e a nobre missão
É verdade: Minotauro ficou famoso pelo brio no ringue e no octógono. Único peso-pesado a ser campeão nos dois maiores eventos da história do MMA, o Pride e o UFC, virou lutas dadas como perdidas e venceu todas as estatísticas. Sua verdadeira liderança, entretanto, foi construída essencialmente fora dos combates físicos.
Rara unanimidade em um esporte envolto em polêmicas, visto como um sábio entre falastrões, Minotauro é conhecido por ajudar – e muito – outros lutadores. Quando Anderson Silva rompeu com sua academia em Curitiba, Minotauro abrigou-o no Team Nogueira.
Fundada em 2007 por Rodrigo e Rogério, seu irmão e também lutador de MMA, o Team Nogueira exportou dezenas de lutadores para as principais organizações de combate do mundo, como Anderson Silva, Rafael Feijão, Júnior Cigano, Antônio Pezão, Vitor Miranda, Erick Silva, Rony Jason, Toquinho, Tiago Trator, Wagner Cladeirão e Vinícius Spartan.
O Team Nogueira tem como missão:
“Team Nogueira é mais do que uma academia, é um ambiente de encorajamento, um catalisador de transformações. Na atmosfera de qualquer franquia, as pessoas precisam encontrar inspiração para negar suas próprias barreiras. Duas palavras traduzem este espírito: Never Quit. Mais do que um slogan, Never Quit é uma verdade absoluta sobre o exemplo de vida dos irmãos Nogueira. Uma inspiração para alunos, atletas e mestres. Um mantra de conduta que faz as pessoas encontrarem a versão mais incrível delas mesmas. Never Quit consegue traduzir o espírito da marca para todos os públicos da academia: É para o professor assumir seu papel de mestre e revelar o verdadeiro potencial do aluno. É para os atletas se inspirarem na história de seus precursores quando estiverem em combate. É para as crianças desenvolverem o caráter acima de qualquer habilidade. É para mulheres, adultos, idosos e todos que desejam concretizar os planos que traçaram para suas vidas. É para o mundo. Uma marca global precisa de uma assinatura que seja entendida onde quer que ela esteja”.
Dentre as histórias mais emblemáticas da casa, está aquela de quando Minotauro colocou uma mãozinha para salvar a carreira de Anderson Silva. O ano era 2004 e o lutador ainda não tinha engrenado. Havia brigado com a equipe que o levou ao Pride e passava por sérios problemas financeiros. Cogitava largar de vez as lutas e abrir um lava-jato.
Minotauro foi até Curitiba encontrar Anderson e o convenceu a mudar de ideia. O baiano o levou para treinar no Rio de Janeiro e arrumou lutas para ele, o incentivou financeiramente. Foi o ponto da virada para Spider, que, a partir daí, viria a se tornar recordista de vitórias e defesas de cinturão consecutivas no UFC e um dos maiores nomes da história do MMA.
Persistência de uma criatura mitológica: o que Minotauro deixa de legado
Minotauro, sobretudo, deixa de legado para o Brasil um campeão inabalável, cravado nos altares da história dos esportes individuais. História essa que nos ensina muito. Parafraseando Rocky Balboa: “não é sobre o quão forte você consegue bater, mas o quanto você consegue aguentar”.
A vida te faz ter que aguentar todos os tipos de circunstâncias. Ser agressivo nem sempre é a resposta, mas o quanto você consegue absorver e seguir em frente mostra o poder que você tem dentro de si. Você precisa ficar mais com a guarda alta do que esperando pela oportunidade de dar uma pancada.
Uma trajetória é assim. Caminhões reais e metafóricos passando rapidamente por uma avenida intransponível. Intransponível até que ela não seja mais. Até que você tome a primeira porrada e levante. Até que você saiba medir a dor e conseguir colocar as coisas em perspectiva.
O importante é não desistir. É lutar pelos seus objetivos. Com as mãos ou com quaisquer recursos que você tenha para atingi-los. Lutar como um campeão, lutar como uma criatura mitológica que tirou forças de um atropelo para atropelar o mundo.