Larissa de Macedo Machado, a Anitta, atingiu neste mês de março de 2022 o top 1 das paradas do Spotify. Como uma brasileira, cuja missão sempre fora democratizar o funk, alcançou o patamar mais alto do mundo da música? Afinal, quem é Anitta? E o que está por trás do fenômeno da carioca de Honório Gurgel?
Alguns motivos podem nos levar à construção desse raciocínio.
O primeiro deles é que Anitta entendeu seu objetivo de negócio – mais, entendeu o público que queria atingir com seus planos. Dentro da América Latina, o Brasil é o único país com a língua portuguesa. Pensando em uma carreira internacional, a cantora não poderia se lançar apenas como uma estrela do Brasil. Se isolaria. Passou a cantar em idiomas que o mundo inteiro compreenderia. A partir daí, voou como um foguete, em plena propulsão.
Além de saber o público que queria impactar com seu planejamento, também entendeu o formato e os meios com os quais se comunicaria. “Envolver”, o hit responsável por levá-la ao topo das paradas, foi um sucesso estrondoso entre a colossal base do Tik Tok, antes de bater os recordes no Spotify, a plataforma on-demand mais famosa do mundo da música.
Que Larissa de Macedo Machado mostrou um talento irreverente como Anitta é indiscutível, mas o segredo para o seu sucesso está nas geniais estratégias de negócio e de marketing que permearam sua carreira. Estratégias essas guiadas por um perfeccionismo e por uma resiliência que poderiam muito bem ser aplicadas em qualquer empreendimento.
Anitta sempre foi uma das bandeiras para desmembrar em picadinhos o preconceito com o funk. O Brasil, imbuído dessa cultura, ficou pequeno para o tamanho de seus objetivos. O mundo de repente se tornou tangível e foi atrás. Conseguiu.
Uma brasileira, da periferia do Rio de Janeiro, conquistando um espaço que nunca lhe deram o direito de sonhar. Tem aquela frase batida: “era impossível, até ir lá e fazer”. Cabível à essa narrativa. Quem imaginaria que a Larissa lá de 2009, esguia e combativa, se tornaria uma das vozes mais influentes da nossa geração?
Abriu as Olimpíadas do Rio de Janeiro ao lado de Caetano Veloso e Gilberto Gil. Cantou com gigantes da música internacional como Cardi B, Iggy Azalea e Mike Towers. Prêmios? Acho que falta estante para acomodar todos: Artista do Ano, Revelação do Ano, MTV EMA Worldwide Act Latin America… e por aí vai.
Voltamos à primeira questão: afinal, quem é Anitta? E o que está por trás do fenômeno da carioca de Honório Gurgel?
Quem é Anitta, a Larissa de Macedo Machado?
Larissa de Macedo Machado, a Anitta, nasceu em 30 de março de 1993 na cidade do Rio de Janeiro. “Girl from Honório Gurgel”, zona periférica da Cidade Maravilhosa, a cantora é a filha mais nova da artesã paraibana Miriam Macedo, com o vendedor mineiro Mauro Machado.
O gosto pela música começou cedo e já com oito anos Larissa cantava no coral da Igreja Católica de Santa Luzia. Jurava para quem lá estivesse: “um dia serei famosa e rica”. Quando completou quinze anos, se interessou também pelo universo da dança. Começou a dar aulas, se apresentava em bailes de dança de salão e, aos dezesseis, no ano de 2009, começou a postar vídeos no YouTube, estimulada pelas recentes descobertas.
Larissa se torna a poderosa Anitta por conta da minissérie “Presença de Anita”, da Rede Globo. Achava a protagonista “incrível”, pois conseguia “ser sexy sem ser vulgar, menina e mulher ao mesmo tempo”. Virtudes que imprimiu ao longo de toda sua carreira.
Mas fato é que graças à cara de pau ao subir esses vídeos, Anitta foi descoberta pelo Furacão 2000. Sua primeira canção, “Eu vou ficar”, foi o suficiente para fazer um belo burburinho no mercado.
Apesar da vocação e do desejo, Larissa ainda passava por uma adolescência comum. Precisava estudar e dar seus pulos para ter algum dinheirinho no bolso. Trabalhou como vendedora da loja de roupas e fez estágio na empresa mineradora Vale do Rio Doce.
Concluiu o Ensino Médio Técnico em Administração no Instituto Superior de Educação do Rio de Janeiro (ISERJ/FAETEC). Ainda tentou se aventurar no Marketing, mas chegou a um ponto com o qual precisava decidir: uma carreira executiva ou seu sonho no mundo da música.
Bem, contar como essa decisão se desenrolou é uma grande redundância para narrativa. Larissa virou MC Anitta, que depois passou a atender apenas pela alcunha de Anitta e ainda angariou tantas outras, como a patroa do Brasil, a poderosa do funk, Anira.
Em 2012, Kamilla Fialho começou a empresariar sua carreira. Ainda sem gravadora, as duas gravaram o clipe de “Meiga e Abusada”. Com uma super produção, a música viralizou e ganhou a atenção da Warner Music, que no ano seguinte fechou contrato com a cantora.
O primeiro single desta nova etapa de sua carreira foi o responsável por lhe dar o posto de poderosa. Seu show mostrava o quão poderosa era. O “Show das Poderosas”. Emplacou de vez e ganhou visibilidade em todo o país. Público e premiações não conseguiam mais ignorar a menina de Honório Gurgel.
Anitta sempre foi uma estrategista de primeira. Nunca esqueceu suas raízes, mas com a visibilidade que ganhou, começou a planejar voos mais altos. Estrategista nos negócios e uma artista extremamente polivalente.
Lançou o álbum “Ritmo Perfeito” – e dele conhecemos a primeira pitada da Anitta pop, performando ao lado, por exemplo, de Projota. Com a dupla Simone e Simaria, lançou “Loka”. Também brindamos “Você Partiu Meu Coração”, com Nego do Borel e Wesley Safadão.
Dentre tantas facetas e conquistas no mercado nacional, em 2017, Anitta começou a flertar com o resto do mundo, sobretudo, com a América Latina. Larissa, a poderosa MC Anitta, agora recomeçava em solo internacional com a pronúncia Anira.
A missão de Anitta: metamorfose ao pop, mas sem deixar de levar o funk para o mundo
Seu primeiro sucesso com proporções internacionais foi uma parceria com Iggy Azalea, intitulado “Switch”. Nesse momento, o mundo também não poderia mais ignorar a força gravitacional de Anitta.
Ainda mais quando seu próximo projeto daria um verdadeiro “CheckMate”. A cantora lançaria uma série de músicas ao longo daquele 2017, explorando diferentes gêneros musicais e expandindo seu repertório para algo muito além daquela MC que postava vídeos no YouTube.
A cantora, à essa altura, já tinha chancela de grandes marcas para potencializar seus lançamentos. Botou na rua “Will I See You”, “Is That For Me”, “Downtown” e a aclamada “Vai Malandra”. Para cada faixa, um idioma diferente, uma batida diferente e influências que se cruzavam para criar uma sonoridade autêntica.
“Vai Malandra” é sua ode ao funk para o mundo. Uma homenagem ao Honório Gurgel, à cultura brasileira e suas raízes, as quais nunca abdicou por um momento sequer.
“Envolver”, o hit responsável por levá-la ao topo das paradas, foi um sucesso estrondoso entre a colossal base do Tik Tok, antes de bater os recordes no Spotify, a plataforma on-demand mais famosa do mundo da música. Está na boca do povo – não o povo brasileiro, mas de todas as aldeias que cantam suas músicas.
Nunca foi só música – a faceta Anitta empresária
Anitta, a cantora, todo mundo conhece. Ela tem mais de 60 milhões de seguidores no Instagram, mais de 15 milhões no Youtube e encabeça listas de sucessos no Brasil e no mundo.
A Anitta empresária, essa não tão esmiuçada e conhecida, tem uma profundidade e uma competência pelas quais a levaram ao topo mais alto do globo. Já deu até aula em Harvard, pela revolução que provocou no mercado da música e do entretenimento.
O combo faz parte de sua personalidade, porque ela gosta de se envolver – ainda mais quando o assunto são as rédeas de sua carreira. A poderosa sabe que pode simplesmente ser uma artista e deixar a parte dos negócios para uma outra pessoa. Mas com ela não funciona assim.
Ela até foi empresariada por um tempo, mas decidiu abrir mão desse formato por não ter encontrado alguém que tivesse um ponto de vista compatível com o seu. Assim, fundou uma empresa com o irmão Renan Machado, para que pudesse comandar sua própria carreira – e foi justamente isso que fez com que crescesse de diversas formas.
Segundo ela, o primeiro passo para começar a empreender é encontrar a sua própria essência. Lembra do que foi falado no começo do texto? Anitta entendeu seu objetivo de negócio – e mais, entendeu o público que queria atingir com seus planos. Isso vem de sua essência. Nunca fez algo que não gostaria de consumir. É um erro buscar onde começar com base nos outros – você não tem o seu diferencial, não cria o novo, que é o que vai provocar o seu crescimento e chamar mais atenção. Você fará apenas mais do mesmo.
Para crescer nos negócios, Anitta precisou conhecer seu público. Como artista polivalente, o primeiro objetivo era quebrar a barreira do nicho. Hoje, tem gente que a conhece por um trabalho específico, por uma palestra, por suas coreografias ou por suas apresentações ao lado de Caetano e Gil. É gente que vem de tudo que é lado. A Larissa da Igreja Católica de Santa Luzia ficou “famosa e rica”.
Anitta se declara extremamente intuitiva. Seu segredo para inovar nos negócios é pesquisar seu público e refletir sobre o que ele gostaria. “O que será que surpreenderia essas pessoas? O que elas precisam, mas ainda não sabem? O que ainda não foi pensado e que pode gerar engajamento?”, são suas principais perguntas, levantadas pela Forbes.
Anitta lida com uma grande equipe em seu dia a dia. A cantora gosta de ter essa diversidade em seu time, mas também sabe que o segredo para que isso dê certo é sempre manter a sua linha de raciocínio como base para processar os conselhos e opiniões. Segue muito a sua intuição e isso a faz ir longe. Acredita que o que define um líder é a capacidade de ver o que está adiante.
Para além da música, sua trajetória está alinhada com gestão. Gosta de ver um projeto ser concebido, ganhar tração e ir para a rua. À Forbes, confessou que gostaria de oferecer consultoria para outros artistas.
Envolver e o número 1 nas mais ouvidas no mundo pelo Spotify
No Brasil, nenhum outro cantor chegou ao lugar mais alto do Spotify antes. Agora, no top 1, Anitta é também a primeira cantora latina a realizar esse feito, ultrapassando Karol G e Kali Uchis, que já haviam conseguido chegar ao top 2.
O que torna o feito da cantora ainda mais marcante é o fato de ser uma canção solo na interpretação, composta por ela, em parceria de Julio M. Gonzales Tavarez, Freddy Montalvo e José Carlos Cruz.
“Envolver” mostra que Anitta tem força para dominar o mundo sem a necessidade da avalanche dos “feats”. Até então, sua melhor posição era com “Vai Malandra”, que chegou ao 18º lugar nos charts do Spotify.
Nesse mês de março de 2022, um desafio na internet chamado “El paso de Anitta”, o qual as pessoas reproduziam a coreografia da música, fez com que Envolver viralizasse nas redes sociais, especialmente no TikTok. O “desafio” ganhou força principalmente na América Latina e, consequentemente, começou a subir nos charts desses países. No México, por exemplo, a música chegou a avançar 80 posições em apenas 24 horas.
Para efeito de comparação, no dia 6 de março, o hit amanheceu no Top 200 do Spotify Global, na posição 172, com 829 mil reproduções. Aos poucos, foi ganhando espaço em países como Portugal, Espanha, Argentina, Bolívia, Peru, Panamá, Peru e Equador.
Não demorou muito para que chegasse ao Top 100: quatro dias depois, em 10 de março, a canção já estava na posição 92, com mais de 1 milhão de reproduções. Dois dias depois, em 12 de março, já estava entre as 50 músicas mais ouvidas do mundo.
No último dia 19, ela chegou em 9º lugar, fazendo de Anitta a primeira brasileira a alcançar o Top 10 da plataforma. Menos de uma semana depois, a música já era a mais ouvida do mundo. “Girl From Honório Gurgel” agora é uma baita “Mulher do Mundo”.