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Rayssa Leal, a fadinha do skate

Rayssa Leal, a fadinha do skate, nos ensina: o momento é único e você deve aproveitar

Sumário

Nascida em abril de 2008, Rayssa Leal, a fadinha, tornou-se – do alto de seus 1,45 metros, da magreza de seus 35 quilos e do auge de seus 13 anos de idade -, não só a mais jovem medalhista da história do Brasil, mas também a primeira mulher brasileira a subir ao pódio no skate, até então inédito nas Olimpíadas.

É sem precedentes. É conto de fadas. Conto de fadas esse que começa aos 7 anos, com suas inúmeras tentativas de realizar um heelflip sobre uma escada de Imperatriz – sua cidade natal. Conto de fadas esse que também passa por toda uma jornada de herói – ou de heroína, mais apropriado para aqui -, treinando, persistindo, resistindo e se aperfeiçoando dia após dia. E conto de fadas que termina com um final feliz, reluzente como a prata.

Você acredita em conto de fadas? Conheça a história de Rayssa Leal, a fadinha do skate

Aos 7 anos, em 2015, Rayssa Leal viralizou com um vídeo em que, fantasiada de fada, tentava pular uma escada com um heelflip. Foram inúmeras as tentativas – a grande maioria em vão. 

De fato, o heelflip é uma manobra difícil de acertar em movimento, já que o pé de trás executa o flip, enquanto no pé da frente é usado o calcanhar para bater na extremidade do nose, fazendo com que o skate consiga ter até duas rotações.

Pulando uma escada fica mais difícil ainda. Uma menina de 7 anos? Vestida de fada? Era para viralizar. Depois de tanto tentar, a fadinha encaixa sua manobra e explode nas redes sociais.

Nascida em Imperatriz, no Maranhão, seu vídeo chegou a um tal de skatista chamado Tony Hawk, que olha só, também se impressionou e compartilhou o feito. As fronteiras do nordeste se expandiram para as do mundo e Rayssa, mais do que viralizar, conseguiu sustentar o feito. 

Sustentou porque era um talento nato, uma força da natureza.

Rayssa Leal: quando o viral deixa de ser um pico e se torna um fenômeno

Quando ganhou o apelido de Fadinha, Rayssa tinha 7 anos. Hoje ela tem 13. 

Beleza, não temos aqui uma criança que se transformou em uma mulher formada e que tem toda uma construção nas suas costas, mas temos uma menina que amadureceu. Que engrossou a voz. Que entrou na adolescência, que saiu de Imperatriz e foi ver o mundo, conhecer gente diferente.

A relação Rayssa Leal com Fadinha nem sempre foi bem resolvida. A própria skatista já chegou a declarar que a alcunha não encaixava muito com uma atleta profissional. Dilemas de quem está se conhecendo. Ela não queria mais ser associada ao que lhe tornara famosa.

Porque ela justamente deixava a sombra do viral para trás e começava a construir sua carreira. Ela foi um fenômeno além. Não foi um pico de fofura misturado com o espanto de uma habilidade estrondosa. Foi o início de uma trajetória, que até sua coroa de prata, teve muita consistência.

Aos 11 anos, em 2019, ela fez história ao se tornar a mais jovem skatista a faturar uma etapa da Street League Skateboarding (SLS). Ela venceu a disputa em Los Angeles, superando a também brasileira Pâmela Rosa.

Naquele mesmo ano, as posições ainda se inverteram. No Mundial de Skate Street, disputado em São Paulo, Rayssa Leal foi vice-campeã mundial, atrás justamente de Pâmela Rosa.

Segunda colocada na etapa de São Paulo e vencedora em Los Angeles, a maranhense ainda ficou com um bronze na etapa de Londres. Também foi a quarta colocada na etapa de Mineápolis dos X-Games, em sua estreia no evento.

No cenário nacional, também em 2019, Rayssa Leal foi campeã brasileira na modalidade street. O título foi conquistado com o somatório de pontos das três etapas disputadas no ano: Minas Gerais, Bahia e São Paulo. 

A Fadinha chegou gigante nas Olimpíadas. E agora é Fadinha porque Rayssa acabou fazendo as pazes com o apelido. Ela construiu sim uma carreira – e pra lá de vitoriosa já. Sua percepção mudou ao ver o aspecto humano do que a alcunha movimentava: o calor da torcida, o símbolo, a leveza, a mágica.

Assim ela chegou, além de qualquer coisa, para representar o que ela mais gosta de fazer: o skatelife, a diversão e sua cultura.

Skatelife: você não torce para seus adversários caírem – você vibra com eles

O Twitter foi inundado de uma torcida repentina que acompanhou o skate nas Olimpíadas como se fosse uma disputa de pênaltis de uma partida de futebol. Para um ganhar, impreterivelmente, o outro tem que errar – nesse caso, cair. 

Só que essa não é a cultura do skate – e quem acompanhou as transmissões do evento nos canais Globo, a tetracampeã mundial Karen Jonz, que estava atuando como comentarista, mostrava isso. Ela torcia para que todas dessem seu melhor e que a disputa fosse nivelada no seu mais alto nível.

Skate é um estilo de vida. Você não compete em uma sessão. Seja em um bowl ou em um street park. Existe espaço para todos e ali é um ambiente extremamente participativo, de parceria. De tentar, errar, acertar e celebrar. Uma coisa de comunhão. 

Você pode ter a pessoa mais na dela, mais introspectiva e focada, como aconteceu com Kelvin Hoefler – também medalhista de prata no masculino -, mas o cara não entra pra te atrapalhar ou para ser melhor do que você, para torcer que você caia, se machuque por um resultado. Ele entra para focar no seu flow, na sua capacidade de acertar uma manobra, um desafio.

É sobre isso: desafio. Superar uma série de limitações. E quando você está em cima do skate, você pertence. Existe uma galera que se identifica com esse tipo de percepção. Que pertence também.

O skate não é sobre torcer para os outros errarem. O skate é justamente sobre torcer para os outros acertarem e que você vá lá e faça sua parte, faça bonito, e seja digno de qualquer tipo de premiação, porque com certeza a maior delas já está garantida: a diversão. Com a rodinha bem apertada no truck e o shape alinhado, deslizar pelas pistas ao redor do mundo é o maior prêmio que um skatista sempre pôde pedir.

Skate é repertório.

Porque houve um tempo em que até isso era proibido. Um esporte ainda muito marginalizado, estereotipado. Rayssa é ainda mais essencial nesse sentido: para quebrar de vez esses estereótipos. 

Uma menina, com as unhas pintadas das cores do Brasil, aparelho nos dentes e um sorriso largo, de orelha a orelha, encantando por sua capacidade absurda de acertar manobras complicadíssimas como se fosse mágica.

Mais do que qualquer coisa, o skatelife mostra que na pista o momento é único e você deve aproveitar. Quantas skatistas ali não estavam com um semblante de felicidade no rosto?

Margielyn Arda Didal, que levantou a bandeira do skate feminino nas Filipinas, se diverte com Rayssa tanto quanto.

Alana Smith, representante dos Estados Unidos, e últime colocade nas classificatórias, esbanjava felicidade por estar lá. Lanterna, elevou à enésima potência o mood e ética do skate de o que vale é estar lá. Mais se divertindo do que competindo. Pessoa não binária, Alana não se importa com limitações e rótulos.

Skate é isso! E mostra como alto rendimento pode vir sem tanta pressão psicológica, bola muito levantada por Simone Biles, provavelmente a maior ginasta da história – e que desistiu de suas finais nessas Olimpíadas por questões de saúde mental.

Nem tudo precisa ser perfeito. Pode ser do seu jeito. Que honraria maior do que desfilar suas rodinhas pelas pistas dos jogos mais antigos da humanidade? Ainda mais na edição de inauguração da categoria?

Talvez atletas mais velhos carregam consigo um fardo maior, por uma percepção de dimensão. Mas tudo é construção. Rayssa fez questão de destacar após a medalha olímpica:

“Não existe futuro sem passado. Se eu estou aqui hoje, é porque o skate brasileiro tem história. Se eu estou aqui hoje, junto de outros 11 atletas, é por causa de todos os skatistas ‘das antigas’, que fizeram o nosso esporte chegar até aqui”.

‘Das antigas’ são gerações que vêm construindo valores hoje naturalizados em pessoas como Rayssa Leal, Margielyn Arda Didal e Alana Smith

Falando de skate feminino, Rayssa tem espaço justamente por mulheres como a própria Karen Jonz, Larissa Carollo, Dora Varella, Isadora Pacheco, Letícia Bufoni e Pâmela Rosa. 

Essas duas últimas que estavam lá com a Fadinha competindo em Tóquio. E que tinham potencial claro de fazer pódio triplo. Não aconteceu, mas são multicampeãs e skatistas respeitadas no mundo todo.

Essas mulheres começaram a trilhar um caminho mais aberto à diversidade e a tomar atitudes contra a desigualdade profissional e salarial entre homens e mulheres – e acredite, mudanças mais profundas ainda virão com essa galera da Rayssa.

Foram também essas mulheres que começaram a pensar profundamente a respeito do que é importante para elas dentro do esporte, como construir carreira, ganhar espaço e encontrar seu propósito de vida. Ser espelho, mostrar que ali também é lugar de mulher e que uma menina de 7 anos vestida de fadinha podia realizar uma manobra maquiavélica. 

É com exemplo que faz algo se tornar real. Essas mulheres deram o exemplo para a Rayssa. Rayssa acaba de dar um baaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaita exemplo para o resto do mundo. 

De que talvez multicampeãs possuam mais consistência e repertório, mas que quando você entende que você está vivendo um momento único e que você deve aproveitar cada segundo, o que lhe resta é matar e se divertir. 

Momiji Nishiya, também de 13 anos, levou o ouro, enquanto Funa Nakayama, de 16, terminou com o bronze. Sinais de que as coisas estão mudando, não?

Uma menina que entende que o momento é único e você deve aproveitar cada segundo consegue ser matadora se divertindo

Vapo. Uma expressão que ficou famosa para indicar execução. Nascido para matar. Rayssa faz o gesto do vapo, porque foi para lá com instinto de assassina – sem deixar de brincar, de tirar onda, de aproveitar cada segundo do que era aquilo: Olimpíadas, aos 13 anos de idade, fazendo o que mais gosta. Vapo.

Faça com que seja simples – e não um plano mirabolante. Quanto mais degraus você colocar para atingir sua meta, mais cansativo e distante se torna o processo. Precisa ser simples. Simples como focar. Simples como falhar, entender que isso é parte da construção e que você não retrocedeu – você apenas aprendeu como caminhar por um novo percurso. Lições que provavelmente Letícia e Pâmela aprenderam. 

Mas que, no final do dia, a simplicidade esteja na diversão e na objetividade, como Rayssa foi lá e fez. 

Assim, quando viralizou em 2015, a maranhense continuou nos apresentando o que ela sempre teve para nos mostrar: pode ser um lampejo, mas só se você deixar. Quando você tem a percepção de que está acontecendo algo único na sua vida, não é aquele o momento que basta. É a consistência da construção pré, durante e depois – e como você lida com tudo isso.

Fenômenos surgem na internet por todos os lados diariamente, mas poucos sustentam a bronca de perdurar. Não dá para estacionar no argumento de que Rayssa manteve a relevância unicamente pelo seu talento, pelo seu dom. 

Isso ajuda quando a gente fala de esporte, mas o combo fadinha envolve a personagem, envolve a determinação e, principalmente, o que ela decidiu fazer com a vida dela depois que apareceu uma oportunidade.

Treinou muito. Foi ganhando espaço. E hoje é a primeira skatista mulher e brasileira medalhista olímpica. Aos 13 anos. Se divertindo e tirando uma onda. Reencontrou Tony Hawk em Tóquio e ainda o chamou de Toninho. Olha a moral.

Sua postura sempre foi de consistência. No carisma, no profissionalismo, na orientação educacional, em como se porta nas redes sociais. Nunca deixou de ser uma criança, mas encontrou um propósito para se divertir: o skate. O skatelife, responsável por salvar a vida de milhares de pessoas, que encontraram na filosofia um resgate de autoestima e na relação com seu corpo, com o exercício físico, com a saúde.

Rayssa reconhece suas vulnerabilidades, mas, ao mesmo tempo, trabalha sempre para melhorar e evoluir. Não é uma pessoa que culpabiliza, sempre olha para frente. É um pouco do que todos queremos ser. Todos nos identificamos. 

A confiança elevada, antes resguardada em uma garota tímida, e o discurso maduro de uma criança de sua idade, são a marca registrada de uma pessoa que sempre possui um sorriso espontâneo no rosto e, mais do que isso, de uma pessoa que deixa tão claro, tanto quanto sua reluzente prata, a disposição de manter o skate como uma brincadeira/profissão em sua vida. 

Uma jóia, que ainda terá uma longa carreira pela frente, mas que começa já no panteão do esporte brasileiro.

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